10 de março de 2012

Pitty - Especial Mulher: Timidez Felina


Timidez Felina
DANIEL ARATANGY
Eternamente preocupada com a influência nociva da fama, Pitty já consegue aproveitar as vantagens de ser célebre

"Não quero ficar com cara de modelete", diz Pitty, ao solicitar alguns pequenos desenhos em lápis preto ao redor dos olhos. “Não se preocupe, você é bonita”, responde o maquiador. “Obrigada”, ela agradece, fechando os olhos mais tranquila. Momentos depois, em uma tarde de sexta-feira pouco ensolarada em São Paulo, Pitty está sentada de frente para a ampla janela da sala de um apartamento no alto de um prédio no bairro de Perdizes, enquanto aguarda para ser fotografada. A assessora lhe traz pão de queijo e café, que compõem o que provavelmente é a primeira refeição dela naquele dia. Enquanto dança discretamente ao som do Gotan Project, Priscilla Novaes Leone nem se parece com a furiosa cantora de letras confessionais que conquistou a admiração fanática de milhares de adolescentes deslocados – eles, segundo a própria Pitty, seriam o espelho dela própria no que chama de seus “anos definidores”, quando morou com a mãe, Dina, e o irmão, Leonardo, em Porto Seguro, Bahia, entre os 10 e 14 anos. Assim sendo, Pitty sempre toma cuidado especial ao abandonar – nem que apenas por alguns minutos – a persona rebelde que encarnou desde o começo da carreira.
Ainda durante a sessão de maquiagem, Pitty confessa que despertou há poucos anos para a vaidade, mesmo que não saiba precisar exatamente quando. “Sou péssima com datas”, justifica. “Rolou naturalmente. Algumas pessoas podem dizer que foi a maturidade, mas eu não sei. Um belo dia comecei a achar interessante e não reprimi.” Este é um dos poucos lados assumidamente “menininha” da cantora. Durante as fotos, no entanto, desarmada de defesas em relação ao contato com estranhos (ou então assumindo um papel por alguns poucos minutos), Pitty deixa seu lado feminino aflorar aos poucos. Vestindo uma lingerie roxa, ela exibe uma sensualidade contida, mas nítida. Está longe do estilo mulherão – tem 1,61 m de altura e não costuma usar roupas que realcem suas formas – mas confortavelmente se deixa deitar no sofá para, sem grandes movimentos, seduzir a câmera apenas com o olhar. Tal qual um gato que pede carinho de mansinho, ela parece levar a situação com sutileza ímpar.
Uma sessão de fotos é, na verdade, outra forma de teatro, um jogo entre câmera e seu objeto – algo que Pitty, 34 anos, está acostumada a fazer na vida profissional. Pouco mais de um mês depois, nos reencontramos na sala do apartamento dela, na região da boêmia rua Augusta, em São Paulo. Com o rosto limpo, calça de ginástica preta, blusa preta com detalhes verdes e azuis, ela parece mais relaxada. Confessa que se sente melhor em ambientes masculinos. “Me identifico com a praticidade, um certo pragmatismo”, explica. “Acho a relação com homem muito honesta, sempre tive amigos homens de olhar no olho e dizer tudo que eu sinto sem me sentir julgada. Quando estou com meus amigos, sou um mano: arroto, bato no ombro, chamo de gostosa.” Não que ela não tenha grandes amigas mulheres ou não frequente ambientes femininos. “Os estereótipos femininos, as conversas, me fazem olhar meio de fora”, analisa. “Eu não me vejo participando daquilo. Participo porque sou garota, tenho que estar ali, mas acho caricato.”