No fim da tarde da última quarta-feira (25) – aniversário da cidade de São Paulo – a cantora Pitty (na foto) e o guitarrista de sua banda, Martin, subiram ao palco do Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, para apresentar o seu novo projeto Agridoce. No entanto, as cadeiras completamente tomadas por vozes que acompanhavam cada palavra dita nas canções, não pareciam ver tudo aquilo pela primeira vez.
O grupo, lançado em novembro de 2011, já pode ser considerado um sucesso. O som é um pouco diferente do feito por Pitty usualmente; é mais calmo, bem mais intimista e um tanto folk. É feito de “melodias suaves aos ouvidos, mas letras nem sempre leves ao coração”, define a cantora explicando também o nome do projeto.
O disco do Agridoce foi gravado durante 22 dias em um estúdio/sítio na Serra da Cantareira (SP), com produção de Rafael Ramos, o responsável pelo selo Vigilante – selo de discos alternativos da Deck. No início, no entanto, as músicas surgiram para preencher um tempo de férias ocioso, uma abstinência de produzir novas canções. As primeiras composições foram disponibilizadas no MySpace e rapidamente caíram no gosto do público; diante disso parecia inevitável a concretização do álbum.
No show, os dois músicos também são acompanhados de Luciano Malásia (percussão) e Loco Sosa (samplers e gravações). A preocupação era poder trazer para o palco a atmosfera de quando o disco foi feito; a princípio as músicas eram só piano, violão e vozes mas ao longo do processo outros instrumentos e sons diversos foram incluídos.
No Sesc Pinheiros a primeira música executada foi “Upside Down”, ao contrário do que indica o título é uma música em português com apenas o refrão em inglês. Esta, aliás, é uma liberdade que o projeto se permite, brincar com os idiomas e escolher o que melhor se adequa à melodia. A canção começa ser cantada por Martin, que também tem outro projeto com o baterista da banda de Pitty, o “Martin e Eduardo”. Ele tocou com um violão emprestado de Marcelo Gross (Cachorro Grande) e se mostrou completamente à vontade ao assumir os vocais garantindo a mesma qualidade vocal de Pitty.
Depois veio um lado B do projeto, “B. Day” – que está disponível para audição apenas na Internet – seguida de “Romeu”, “20 passos” e “Epílogos”, todas cantadas praticamente em uníssono pela platéia. É na hora desta última que o cuidado visual do Agridoce também fica nítido. No grande palco não havia cenário algum, apenas um telão que apresentava vídeos casados com as canções; no caso de “Epílogos” o crescimento de um feijãozinho tal qual a experiência que fazemos no jardim da infância era apresentado enquanto a dupla cantava os versos: “Primeiros aniversários, as festas, balões coloridos. Bailes de debutante, as noites em claro. Depois os casamentos, amores e nascimentos. Por fim os funerais, as camas de hospitais.” O ciclo completo.
Na primeira conversa com a plateia a dupla parabeniza a cidade de São Paulo pelos 458 anos, contam que escolheram a paulicéia como sua casa e agradecem pelas oportunidades e crescimento que tiveram aqui. Os músicos são da Bahia, mas moram aqui há cerca de sete anos.
A sexta música foi “Dançando”, a primeira criação e o primeiro single do Agridoce. Foi a hora da platéia vibrar e cantar com empolgação. Plateia esta formada por um grupo heterogêneo; claro que havia inúmeros fãs da Pitty, mas tinha também famílias, casais mais velhos e muitas pessoas que comentavam nunca ter visto outro show da cantora. Parece que o Agridoce já tem seu público próprio.
Em seguida foi a vez de Pitty mostrar sua parte francesa, cantando “Ne Parle Pas”. A única cover da apresentação foi a última faixa do disco “Please, please, please, let me get what I want”, um clássico da banda inglesa Smiths. Ao apresentar a canção Martin e Pitty comemoram com ansiedade os prováveis shows do vocalista Morrissey no Brasil. Seria incrível uma abertura do Agridoce nessas apresentações.
“130 anos” e “Embrace the Devil” tiram Pitty do piano e a deixam no comando de instrumentos pouco vistos como a escaleta e o xilofone. Seguindo o show com “Rainy”, o telão chama atenção novamente com uma imagem da letra da música sendo escrita e desmembrada com desenhos e pensamentos em preto e branco.
“Say”, composta em parceria com Ricardo Spencer e “O Porto” são a deixa para os agradecimentos, os muitos aplausos e o que parecia ser o fim de um belo show.
No entanto, após alguns segundos de espera, a dupla volta para o bis com “Alvorada”, canção também não disponível no disco e pedida insistentemente por alguns fãs. Depois de explicar o repertório ainda pequeno e chamar novamente ao palco os músicos Malásia e Loco Sosa, o já hit “Dançando” e “Romeu” são executados novamente.
“Temos impressão de que nosso filho já está encaminhado na vida, é bem sucedido, é um orgulho pra nós”, disse Martin antes de tocar “Dançando” no bis. É o que vemos também. A impressão que se tem ao fim do show é de ter presenciado a apresentação de um projeto feito com muito cuidado. Desde as composições até a execução de cada música para a plateia, das melodias aos vídeos apresentados no telão.
A próxima apresentação confirmada do Agridoce será em Porto Alegre/RS, dia 15 de março, no bar Opinião.
Site da banda: agridoce.net